O
político Leucipo Ferreira era o orgulho da nação e em um futuro próximo seria o
presidente. Pode-se dizer que ele tinha “vergonha” de sua fortuna. A fortuna
tinha proporções incalculáveis, que nem o próprio dono sabia ao certo. O que
podia destruí-lo um dia era sua mania de não se contentar, a vida inteira quis
ser o melhor em tudo e, para se contentar economicamente, logo caiu na malandragem
e depois na corrupção. Através dos seus métodos ele não seria pego nem na
morte, afinal quase nada estava no nome de Leucipo, personas eram criadas e
compradas no cartório para representar cada tonelada de notas.
Certo
dia acorda todo dolorido, se sentindo sujo (e estava), o nariz entupido por
cheiro forte de tinta e a boca seca e petrificada com gosto amargo. Estava em
um cenário pobre e imundo jamais visto. Questionou se havia sido sequestrado.
Escutou uma ordem de levantar e recomeçar. Levantou-se no cubículo atrás de um
banheiro. Quando olhou para o espelho se viu, mas não se viu. Não havia pistas
de suas cirurgias, peelings e botox, seu rosto trabalhado e másculo agora dava
espaço a um velho com cara de ninguém.
Percebeu
que estava no subsolo de uma gráfica rudimentar que não parava, cheia de
velhacos como ele em revezamento. Os maquinários trabalhavam na impressão de
milhões de cópias de um modelo de folder. O folder dizia:... De repente não
reconhecia mais as letras e palavras. Porém, havia uma foto de um homem maduro,
sério e másculo. Parecia com ele, mas não era mais assim. O homem agora era
apenas mais um homem. No entanto, um dia, quando esse homem foi Leucipo, ele
desviou dinheiro para acabar com o trabalho escravo e o analfabetismo.
A vida
na gráfica durou até o fim das eleições, no qual o homem másculo foi eleito
disparadamente, para todos era o futuro da nação. Agora o homem só lembrava-se
da vida na gráfica, mas algo lhe dizia que seu país seria um caos diabólico e
deprimente de agora em diante. A vida nas ruas era quente e mendiga, mas ele
não estava sozinho, cada vez mais se via famílias vivendo de sobras e deitadas
em papelões. O homem não durou muito, ele morreu de fome. Ou foi atropelado?
Não, não, deve ter sido em mais um tiroteio. Muito mais humano que morrer de
câncer no Sírio-Libanês.