Chego em casa, prometi para mim que hoje dormiria mais cedo,
tudo pronto para me deitar antes do jornal acabar. “Agora eu to solteira e
ninguém vai me segurar”. Não, funk não. Corro para a minha janela de primeiro
andar.
Lá
estava, no salão de festas do prédio, uma festa de adolescentes de 13 anos, com
direito a DJ e decoração preta e roxa, adultos só os pais da aniversariante.
Coitada de mim, meu soninho só vai vir depois que isso tiver fim.
Reparo
então os convidados, está presente a turma inteira, da mais bonitinha e também
precocezinha á mais desajeitada, de meninos há aqueles de óculos que a mãe
ainda escolhe a roupa á aquele outro que já faz academia e usa corrente de
prata no pescoço. Espinhas também vieram para a festa, escondidas ou não por
maquiagem.
Existe
o cantinho dos garotos e das garotas, ninguém ousou ir para a pista ainda, a
não ser duas priminhas de cinco, seis anos. No grupo das meninas, vejo todas de
saia cintura alta, mostrando pernas virgens e sapato de salto da melissa. Sobre
o que elas conversam? Não preciso estar lá para saber, meninos, ora essa.
Uma delas de cabelo liso e cheio
não para de levantar o decote, a sua amiga morena já está farta de ficar em
cima do salto. Epa, menino se aproximando, e não é dos piores, ele chama a mais
bonita para conversar, um segundo depois ela volta, o menino falhou, chamando a
única que já tinha namorado.
Vou ao banheiro e quando volto já
estão todos na pista ao som de mais funk, pelo visto a mãe da aniversariante
reclamou por pagar o Dj e o aluguel das luzes e da fumaça. Reboladas e descidas
até o chão, na minha época as coisas eram tão “diretas”? Vejo os garotos se
mexendo de um jeito duro e observando-as.
Não sei se gosto de me lembrar
muito destas festas, nunca tive muita sorte, a minha roupa nunca foi a mais
bonita, os olhares que queria nunca foram para mim. Vejo tudo isso numa menina
da festa, queria chegar a ela e aconselhá-la, dizer que se ela ler e estudar
muito terá sucesso profissional e poderá comprar o mais bonito e corrigir o
mais feio, lugar no qual ainda não cheguei, mas é minha motivação.